Primeira Infância II '' Bar da Fernanda ''

Bar da Fernanda

Ficava perto de nossa casa, a fachada era verde desbotada entre uma lacuna e outra,
Um pouco sujo, porém de vez em quando meu pai levava-me junto “ crente que eu era linda demais a exposição” .
A dona do botequim Fernanda tinha origem portuguesa, morena sorriso fácil... sempre me dava um doce !
Do alto do seu 1,75 ( aproximadamente ), pedia sua dose, que alternava entre todos os aperitivos previstos no mural, encostava-se ao beiral do balcão e ouvia as pessoas falarem, ouvia mais do que falava, parecia-me que o lugar era apenas uma válvula de escape para se ausentar do momento presente .
Porém uma vez ou outra se distanciava do copo e me olhava, sorrindo e dizia:
- Quer mais um doce filha?
Recebia uma afirmação.
Nossa alimentação era escassa em vitaminas, e eu sempre sentia fome, esses momentos para mim eram únicos, o doce inibia o desejo de comer.
Muitas vezes eu o via subindo uma escada de terra, que vinha da rua para casa , seus passos trôpegos, trêmulos, sem esperanças, eu ainda não entendia muito de sentimentos, mas a cabeça infantil pendia ao peito, como se tudo o que estava presenciando fosse além da realidade .
Os folguedos, as brincadeiras infantis aos poucos deixavam de ter participação, o momento vivido enchia-lhe a alma e ansiava ser acalentada .

Epílogo Positivo : Fernanda a dona do Botiquim, fez diferença entre um momento e outro, trazendo um pouco de açúcar e alegria .
A convivência, naquele exato momento, da companhia no bar, junto ao pai, mesmo que distante trouxe particular recordações posteriores... o rosto na penumbra, o jeito debruçado ao balcão .